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“Uma fábrica diferente”, entrevista com Manuel Ferreira

“Uma fábrica diferente”, entrevista com Manuel Ferreira

Cresceu na região dos móveis, mas não se identificou com aquilo que viu. Tinha outro projeto em mente: um negócio mais flexível, moldado à medida do cliente, com colaboradores satisfeitos com as condições de trabalho. A receita para uma fábrica ultramoderna com uma filosofia diferente.
Entrevista com Manuel Ferreira, fundador da Novibelo, por José Campinho.

O coração do negócio começou por ser o mobiliário residencial, mas, entretanto, diversificou-se tornando-se cada vez mais num serviço de chave-na-mão. A que se deve esta opção estratégica e qual é o cliente alvo?

Em 1968, há 50 anos, o meu pai fez dois grandes projetos: a casa Ferreira, uma empresa de mobiliário e eletrodomésticos, em Marco de Canavezes, e fez-me a mim (risos). Entretanto, quando tinha 15 anos, o meu pai adoeceu e tive de interromper os estudos para ajudar na empresa. A casa foi crescendo, sobretudo na área dos eletrodomésticos, até que, em 2007, decidi restruturar o negócio e criar um conjunto de empresas para assegurar os vários serviços ligados tanto à área do mobiliário como dos eletrodomésticos.

Em pleno despoletar da crise…

Eu costumo de dizer que nos tempos de crise há sempre oportunidades e foi nessa altura que mais crescemos. Nomeadamente em Angola, numa altura em que a maioria das empresas portuguesas estavam a abandonar o mercado eu arrisquei e as coisas acabaram por acontecer naturalmente. No fundo andei sempre em contraciclo.

Angola foi a primeira experiência internacional?

Não foi a primeira, mas foi a maior. Já tínhamos alguns negócios na Europa, mas Angola foi a nossa maior aposta fora de Portugal.

Como é que surge a Novibelo?

Com a experiência que eu tinha de muitos anos a negociar mobiliário, sobretudo nesta zona de Paredes, apercebi-me que havia algumas lacunas. Que havia áreas onde valia a pena apostar. Foi daí que surgiu a Novibelo, em 2007: Novi (novo) e belo, que aliasse a estética à qualidade. Fundo tentei analisar o que não funcionava e melhorar, ser diferente.

O que é que falhava?

A noção que tinha dos empresários do mobiliário era ter um barraco e um bom carro. Não tenho nada contra ter um bom carro, mas temos de pensar de forma diferente. Se apostarmos nas condições de trabalho para ter uma equipa motivada e feliz as coisas acontecem naturalmente. Foram esse tipo de noções que me possibilitaram desenvolver o negócio.

Quando é que a empresa deu o salto?

Quando chegou a crise e tive de restruturar a empresa achei que o caminho seria inovar e internacionalizar e rapidamente a Novibelo conseguiu encontrar vários bons parceiros na Europa e mais recentemente na América. Neste momento estamos em presentes nesses três continentes.

Foi uma transição difícil?

Os meus empregados costumam dizer que eu prefiro os caminhos difíceis. Mas são esses que nos fazem crescer. As internacionalizações expõem-nos a situações mais complexas. Os choques culturais são desafios que exigem muito de nós e que nos obrigam a estar melhor preparados.

Esta é uma fábrica melhor preparada?

Este projeto não pretende ser melhor nem pior do que os outros, pretende, sobretudo, ser diferente. Foi tudo pensado ao pormenor para nos diferenciarmos dos nossos concorrentes. Quem nos visitar deve sentir que somos diferentes. Deve ser a única fábrica com um parque de estacionamento coberto para todos os colaboradores e uma das poucas autossustentáveis em termos energéticos, com temperatura estável ao longo de todo o ano. Desde que comecei a projetar a fábrica, a ideia que tentei transmitir aos arquitetos foi que quando os clientes nos visitassem metade da venda já ficasse feita. Tenho alguns grandes parceiros que já nos visitaram e nos felicitaram pela coragem e asseguraram que fazem questão de trabalhar connosco. Era esse o objetivo pretendido.

E em termos de produto, como é que a Novibelo se diferencia?

Temos vindo a desenvolver parcerias com estilistas, e algumas grandes marcas que perceberam a nossa visão e que querem trabalhar connosco. A ideia não é sermos um grande atelier do móvel. Em 10 anos ainda não temos um catálogo. O nossa principal mais-valia é a flexibilidade e personalização do trabalho. Temos projetos desde cadeias hoteleiras, a turismo rural moradias privadas e peças únicas.

Mesmo para pequenos clientes?

Um cliente de um euro é tão importante como o de um milhão. Se proporcionarmos um bom serviço aos pequenos vamos ajudá-los a crescer e semeamos para colher.

A Novibelo também vende aos privados?

Queremos manter uma estratégia transparente, a Novibelo é vocacionada para os profissionais com uma estratégia de crescimento de parceiro a parceiro. Tem mais a ver com o ADN da empresa. Para a venda ao público temos outras empresas no grupo, como a Casa Ferreira.

Quem são os principais clientes?

O nosso cliente é a empresa de arquitetura, de decoração, as grandes marcas. Mais na área do mobiliário à medida, desde a cozinha e a casa de banho a instituições hotéis, etc

Em que segmento se posiciona a Novibelo?

Em Portugal, a nossa gama é média-alta. Nos mercados externos apostamos sobretudo na gama alta mas mantendo os preços médios.

O preço faz a diferença?

A diferenciação é pela qualidade e pela capacidade de inovar e não pelo preço. Tentamos proporcionar a melhor qualidade possível, mas a um preço justo. Uma das coisas que sempre transmiti às equipas, desde o início, foi que a Novibelo tem de ser falada pela qualidade, pela honestidade e pelo rigor do seu trabalho. Foi esta filosofia que fez com que a Novibelo tenha crescido. Se precisarmos de 40 dias não vamos dizer que são 30 para tentar ganhar o negócio. Temos cerca de 60 colaboradores, metade dos quais jovens licenciados, e temos de ser profissionais em todas as áreas. Eu tento dar tudo às equipas, mas também exijo muito.

As empresas criadas à volta da Novibelo também são uma mais valia…

Permitem-nos, sobretudo nos projetos de maior envergadura, executar obras com montagem nossa em qualquer parte do mundo. Fazer todo o tipo de trabalhos, desde a obra aos acabamentos, sem dependermos de terceiros.

À volta da nova fábrica está a construir um enorme centro de negócios.

O próximo passo é criar uma espécie de centro logístico para as nossas empresas e acrescentar mais algumas relacionadas com o coração do negócio do mobiliário à medida. Termos tudo, desde a produção à entrega, para trabalharmos os projetos a 100% e garantirmos a melhor relação qualidade-preço.

É um projeto à sua imagem?

As empresas refletem geralmente a personalidade do seu chefe. A capacidade de flexibilidade e de personalização que incuti nesta fábrica tem a ver com a minha própria forma de estar. Eu próprio sou flexível e vou constantemente ajustando os meus projetos. Nunca sabemos tudo, nunca está tudo perfeito, temos de nos adaptar dia-a-dia e é isso que tento incutir às equipas.

No Luxemburgo já têm algum tipo de presença?

No Luxemburgo temos feito alguns trabalhos, mas mais em termos de consumidor final por intermédio da Casa Ferreira. O objetivo, no Luxemburgo como nos restantes mercados, é expandirmos através da Novibelo junto dos profissionais. É um mercado onde podemos proporcionar um serviço diferente, mais personalizado, a preços abordáveis.

Aposta nas pessoas

“As empresas são as pessoas. Perco mais tempo a assegurar que as equipas funcionam com essa mentalidade do que com os próprios negócios. No dia internacional da mulher, por exemplo, passei a maior parte do tempo a preparar algo especial para as minhas colaboradoras. O resto acontece naturalmente”.

Liderança

“Cada pessoa tem os seus pontos fortes e os seus pontos fracos. O sucesso de um líder depende da capacidade de identificar as competências de cada um e criar as condições necessárias para que possam fazer um bom trabalho. Quando os colaboradores têm umas boas condições de trabalho, além de produzirem mais e com mais qualidade, têm também mais flexibilidade e abertura para coisas novas”

Edição especial PORTUGALEXPO 2018 da revista decisão.